terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Everything in the world began with a yes.

Eu disse que estava sozinha e que isso as vezes era dificil. Voce olhou para mim e disse: o que vc quer dizer com estar sozinha? Sozinha significa com todo mundo, não? Vc olhando o mundo por meio de uma janela aberta e eu tentando olhar pelo buraco da fechadura de uma porta fechada por uma maçaneta difícil de virar. Eu estou do lado de dentro, sozinha. Eu mesma a fechei naquele momento em que aquele vento idiota passou por mim e me fez ter medo. Sim, medo é diferente de instinto, mas se vc os confunde por apenas um segundo e isso acontece no momento preciso em que está pisando a borda da porta e segurando a maçaneta, é só disso que vc precisa para dar um passo atrás e fechá-la. Na cara de quem quer que seja. Na sua própria. No momento seguinte vc se sente segura e protegida. E também um pouco morta. Ouvindo o silencio da sua própria solidão. E essa solidão não é do mesmo tipo da que vc mencionou. É um tipo de arbusto cheio de espinhos que só brota no deserto e que não tem cheiro de possibilidades. Os espinhos nascem em todo o lugar e suas raízes atravessam as várias camadas que envolvem o meu corpo. Eu comecei faz tempo a construir essas camadas por cima da minha pele e agora elas estão tão grossas que eu tenho dificuldade de me mexer aqui dentro. Às vezes as minhas mãos começam a formigar e eu tenho a impressão de que tem algo bloqueando a minha circulação, fazendo com que meu sangue fique acumulado na cabeça. Eu sempre pensei que para caber nessa roupa é preciso comer pouco. Mas agora vou entendendo devagar que o que preciso é de menos roupa. A ponta dos meus dedos estão machucadas pelos espinhos. E doem. É muitas vezes no meio da noite que os cortes começam a inflamar. Se eu estou dormindo, eu não percebo. Mas às vezes eu acordo com o barulho de alguma coisa se quebrando lá dentro. Um barulho abafado de algo caindo e cacos de vidro se espalhando. Depois um barulho violento do fogo queimando castelos. Quando isso acontece eu não consigo voltar a dormir. A noite é longa, mas tudo passa quando eu posso declarar que ela acabou e tomar o primeiro café do dia. Às vezes as noites barulhentas e frias são melhores do que as noites mornas e úmidas, em que a falsa calma da tristeza vai se movendo devagar pelo corpo, ocupando espaço pouco a pouco e obstruindo os poros com uma espécie de gordura branca. Eu prefiro ser tomada por sentimentos mais fortes. Aqueles que conseguem atravessar o isolamento e chegar aos meus ouvidos. Agora eu me olho no espelho eu vejo apenas a ponta vermelha desse espinho que nasceu bem mo meio do meu rosto. As cores e os fluidos de uma inflamação aparente. Meus hormônios lutando para ultrapassar as camadas sobre a minha pele e chegar até a superfície. Eu vasculho a minha mochila vermelha procurando a chave da porta. Eu sei que ela está em algum lugar lá no fundo, entre os papéis meio amassados, os bilhetes de metrô já usados e a maçã que levo comigo para enganar a fome. Minhas mãos tateando no escuro da mochila e os ouvidos esperando pelo barulho metálico do molho de chaves tilintando. Olhamos juntos para o mesmo teto. Eu apertando os olhos para tentar enxergar o meu reflexo no lustre e vc quase fechando os seus e sorrindo sem motivo. Em alguma cidade ao sul da Alemanha, o trem que me levaria de volta já começara a rodar. Ele passará para me pegar dentro de algumas horas. Eu estou acordada, minhas mãos já não formigam e eu não sinto mais a inflamação dos cortes nos meus dedos. -You need to put your pants back on, honey. Isso é quando vc finalmente entende que sentir dor não é o único jeito de saber que se está viva.

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