sábado, 9 de janeiro de 2010


despertei do meu sono pesado com o ruído abafado dos passos subindo a escada. a chave na fechadura fazia o mesmo barulho da colher que mexia seu chá à noite antes de dormir, quando a sorte nos dizia que a doçura nos presentearia com contentamento. meus olhos se abriram como se estivessem esperando ver. a manhã escura me fez duvidar que estivesse olhando para dentro de mim e o frio que a parede exalava deixou claro que o sonho quente que ainda está enroscado no meu cabelo é só meu. meu amor dentro dos tímpanos e eu despedindo-me da possibilidade de voltar a sonhar. uma nuvem branca de neve e vento bateu na janela com uma violência deselegante. e eu cogitei ser um vento de sal. os cachorros e as crianças ainda não acordaram, mas tecnicamente essa não é mais uma hora para insônia. o império da noite se desfez e não há mais silêncio. um dia que começa lentamente, assim como o ano. enquanto estamos todos tentando ganhar tempo. a diferença entre alguma coisa e nada é nada. e isso é a mesma coisa que dizer que não há certo ou errado. mas ainda precisamos de tempo para viver sem temor os desejos do momento. talvez seja só o tempo de entender que prazeres e sofrimentos dispensam explicações. só o tempo de entender que dentro dos gemidos e dos gritos há um querer do outro que é o outro e um querer do outro que não é o outro. e isso é tão natural quanto o som que brota das paredes e escorre até desaparecer no carpete do chão do meu quarto gelado. agora é tecnicamente uma tarde de sábado e a tempestade de sal que cobria o deserto acaba de acabar. eu vou sair na rua atrás de um café com leite quente. atrás do gosto doce da tempestade quando acaba.

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